Tuesday, December 08, 2009

Viagem pelos Glaciares

Anoiteceu há tanto tempo. Anoiteceu há tempo tempo na minha vida... 
É noite escura. Entre a leveza aconchengante do edredon onde me enrrosco, interrogo-me em silêncio sobre se alguma vez o Sol vai voltar a brilhar no meu horizonte. Já quase não me lembro de como é essa Luz imensa que irradia calor, brilho, e dá tanta cor à natureza...
Sinto falta dessas cores, desse brilho, mas acima de tudo desse calor, na minha vida. Onde ficaram?...  Onde fiquei...?
Houve um eclipse total do meu mundo... É noite escura. Escura e fria. Um bloco de gelo glacial, bonito e brilhante por fora... Mas completamente bloqueado, preso e com o pulsar da vida em suspenso.... E no tanto... todos admiram e se maravilham...

Enrroscada no meu edredon macio, escrevo a seco, entre lágrimas que brotam dos olhos tristes de menina e as gotas do vinho que a essência de mulher nunca partilhou com o Amor cúmplice e simples.
Sofridas são as palavras que custam a sair... Sinto-me a gelar por dentro, e a permanecer assim para sempre, como um glaciar da Patagónia... Estou a perder-me...A perder a pulsação da Vida plena, alegre e repleta de amor... Estou parada, sem caminho, e atracada num espaço e tempo onde vou congelado e cristalizando mais, e mais, e mais...


Gostava de sentir menos. Gostava de não percepcionar tanto... Dói muito sentir que se endurece por dentro. Dói muito acordar um dia, olhar no espelho e perceber que não foi só o coração que gelou... Já ultrapassou todas as camadas do corpo na turbulência das emoções, e a face os braços, as pernas, e os olhos... estão presos, inertes, esquecidos, tentando ultrapassar e anestesiar dores passadas e que se repetem como um padrão pie-de-poule... Já vi, já senti, já sofri, e congelo porque não quero mais... Acabou...

Hoje sei que estava tão certa quanto ao que sentia e ao que presenciava, mesmo quando me dizias que estava tudo bem, e que nada de mais estava a acontecer...
Hoje tive a certeza, de que até a música que ouvia e sentia que te levava para longe na viagem que deveria ser nossa, era dela e para ela... Eu estava claramente a mais. Estou, claramente a mais, e vou continuar a estar sempre a mais, enquanto o teu Presente continuar a perpetuar as memórias nas mais pequenas coisas da vida... Não consigo preencher o teu vazio do Presente, e não há caminho para o Futuro...

Desculpa... gostava de conseguir continuar a compreender-te, aceitar tudo o que ainda sentes... e o que não sabes se virás a sentir... e construir um caminho novo contigo, onde se fala abertamente do que não se gosta, do que se ama, da grandiosidade dos detalhes, dos passos para a próxima paragem de um caminho a dois, dos likes e dos dislikes, como as crianças de 4 anos, que não colocam defesas quando ganham afinidade com um menino ou uma menina em especial... Gostava de sentir essa entrega sem medo, e que quando algo te magoa o expressasses, porque isso significa que sou importante demais para ti, para deixares passar em branco... e para não me deixares no escurom qaundo te afastas e eu não entendo concretamente os porquês, como qauqluer criança de 4 anos...
Fui sempre uma criança de 4 anos, ao longo de toda a minha vida, e talvez por isso, me dissessem que me entregava demais às coisas e às pessoas... Mas valerá a pena viver de outra maneira?... Dói tanto quando conscientemente cristalizamos e morremos ainda em Vida...

Gostava de poder ajudar-te ainda mais, mas estou sem forças... Gsotava de poder curar as tuas dores, transformar a tua mágoa numa canção bonita de embalar, que te adormecesse num sono reparador e te acordasse com notas de Alegria e esperança renovada. Gostava de ser capaz de continuar a acreditar que um dia tudo ficaria bem, e que irias definitivamente viver em pleno um novo Amor comigo.
Não consigo suportar mais sentir que sou uma mera companhia de "circunstância", que entrou um pouco mais na tua intimidade, uma companheira de quem gostas e admiras, mas não o suficiente para te despertar para uma nova viagem...
E eu, corro o risco de morrer para sempre e cristalizar com um Iceberg que todos admiram mas que não tem vida nem calor para dar... Apenas reflecte o Mundo, como um espelho e uma luz gigante que encanta todos os que o vêm à distância, mas nunca saberá o que é a magia de um abraço quente de Amor...

Chegou o momento de fazer as malas e partir... Partir o que me endurece, partir os padrões, derretar o coração, e voltar a viver a Vida de forma plena, sem esperar muito do Amor mas sem nunca, nunca perder a esperança de que um dia vou saber o que é ser amada verdadeiramente...
Chegou o momento de iniciar o degelo... 
Escrevo a seco, mas as lágrimas que brotam dos olhos triste de menina não param de escorrer... E não quero parar... 


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